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"É necessário saber perder tempo para comprometer-se nas lutas dos povos periféricos e das classes oprimidas. É necessário saber perder tempo em ouvir a voz de tal povo: suas propostas, interpelações, instituições, poetas, acontecimentos... É necessário saber perder tempo, no curto tempo da vida, em descartar os temas secundários, os da moda, superficiais, desnecessários, os que nada têm a ver com a libertação dos oprimidos." - Enrique Dussel

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

NATAL: CHAMADO À MISSÃO - CONVITE À CORAGEM*


Natal é, sobretudo, "... tempo de compaixão e de coragem, misericórdia e vigor. Tempo de equilibrar a alegria com o heroísmo. Tempo de dedicação e renovação!

É um tempo de muita luz, que nos desafia a uma postura tanto diante da sua ausência quanto de seu excesso: ambos podem nos cegar. Está na hora de enxergarmos a verdadeira luz em meio a tudo que ofusca!

E é preciso coragem para atravessar o que nos cega: com a mão á fronte, protegendo-nos da luz, atravessemos a ganância, o medo e a insegurança que reluzem tão poderosamente em nossos dias e noites...

Neste Natal, tenhamos a coragem de nos fazer presença, em vez de multiplicar os presentes! Estejamos presentes junto às pessoas, sobretudo os famintos, carentes e excluídos! Tenhamos coragem de deixar Papai Noel de lado, vestindo-o com calções e chinelos e lacrando todas as chaminés, para abrirmos nossos corações e portas à chegada salvadora do Menino Jesus em cada criança!...

Tenhamos coragem de falar às nossas crianças que, em vez de brinquedos e bolas, peçam bençãos e graças, abrindo seus corações para destinar aos pobres todo supérfluo que entulha nossos armários e gavetas. A sobra de um é a necessidade de outro, e quem reparte bens partilha Deus...

Tenhamos coragem de nos despir dos pudores, e fazer em família ao menos um momento de oração, ler um texto sagrado, agradecer ao Pai de Amor o dom da vida, as alegrias do ano que finda e até dores que exacerbam a emoção, sem que se possa entender com a razão. Finita, a vida é um rio que sabe ter o mar como destino, mas que ignora quantas curvas, cachoeiras e pedras haverá de encontrar nesse seu percurso...

Tenhamos coragem de cobrir nossas mesas de Natal com afeto e compaixão... Dispostos a renascer com o Menino, com urgência, trataremos de sepultar iras e invejas, amarguras e ambições desmedidas, para que o nosso coração seja acolhedor como a manjedoura de Belém...

Tenhamos coragem de, mãos dadas com o Menino-Deus, deixar que as águas lavem o avesso de nossa pele e, em seguida, caminharmos silentes rumo ao novo ano... E com os olhos fixos na Divina Criança, deixar que seu verbo se faça carne em nosso coração de pedra, cuidando para que cresça despregada da cruz, exaltada pela vitória inelutável da Ressurreição...

Enfim, tenhamos coragem de viver um terno natal, ousando corrigir o equívoco do poeta: pois o amor não é eterno enquanto dura, antes dura porque é terno. Amém."

( Pe. Paulinho)

* Retirado da liturgia da cantata de natal das crianças da Catedral Metodista de Piracicaba, no contexto do culto matutino do dia 15/12/2013