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"É necessário saber perder tempo para comprometer-se nas lutas dos povos periféricos e das classes oprimidas. É necessário saber perder tempo em ouvir a voz de tal povo: suas propostas, interpelações, instituições, poetas, acontecimentos... É necessário saber perder tempo, no curto tempo da vida, em descartar os temas secundários, os da moda, superficiais, desnecessários, os que nada têm a ver com a libertação dos oprimidos." - Enrique Dussel

domingo, 21 de abril de 2013

SOBRE O SACRIFÍCIO


Os Antigos, quando queriam prognosticar o futuro, sacrificavam os animais, consultavam-lhes as entranhas, e conforme o que viam nelas, assim prognosticavam. Não consultavam a cabeça, que é o assento do entendimento, senão as entranhas, que é o lugar do amor; porque não prognostica melhor quem melhor entende, senão quem mais ama. E este costume era geral em toda a Europa antes da vinda de Cristo, e os Portugueses tinham uma grande singularidade nele entre os outros gentios. Os outros consultavam as entranhas dos animais, os Portugueses consultavam as entranhas dos homens. A superstição era falsa, mas a alegoria era muito verdadeira. Não há lume de profecias mais certo no mundo que consultar as entranhas dos homens. E de que homens? De todos? Não. Dos sacrificados. [...] Se quereis profetizar os futuros, consultai as entranhas dos homens sacrificados: consultem-se as entranhas dos que se sacrificaram e dos que se sacrificam; e o que elas disserem, isso se tenha por profecia. Porém, consultar de quem não se sacrificou, nem se sacrifica, nem se há-de sacrificar, é não querer profecias verdadeiras; é querer cegar o presente, e não acertar o futuro.

FONTE:
MOTA, C.G. Ideologia da Cultura Brasileria In: ALVES, R. Conversas com quem Gosta de Ensinar. Cortez editora, São Paulo: 1983, pg.81.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

QUEM É QUE TE REPRESENTA ENTÃO?

POR Matheus Giuliano Geraldi *


Estamos em um país onde tudo funciona muito bem por debaixo dos panos e a corrupção impera, e hoje impera com naturalidade, como se fosse algo normal, o que hoje de fato é.
É normal no Brasil que político tenha seus interesses a frente dos interesses do povo. O político mente descaradamente, e quando a mentira também se torna natural, como faz?


Não temos bons exemplos em nosso país. Na TV sabemos que o programa de maior audiência segundo a emissora premia um cidadão por não fazer nada de bom a ninguém, entretenimento não conta como algo bom nesse caso pois esse tipo de entretenimento um coala se alimentando lindamente também pode nos proporcionar. No futebol temos os absurdos da Copa, que a maioria de nós reclama mas não tem muito o que fazer a respeito, sabemos que está errado e por nos sentirmos incapazes nada fazemos. Ainda no futebol, um sujeito que não diz nada de espetacular, não tem o mínimo de bom gosto, é um menino sem atitude alguma e recebe mais de um milhão por mês pra fazer firulas e cantar com o Michel Teló (grande cantor de uma ridícula música só) no programa da virada da rede Globo. Aliás, Michel Teló, quem é esse cara pra receber tanto a nossa atenção? E as letras absurdas de "música" que temos com mensagens que agridem e desvalorizam a mulher? De onde sai essa gente pessoal?! Que tipo de cultura 'idiota' nos alimenta?! O pastor não pode falar contra os gays assim como o funkeiro não deveria falar das mulheres do nosso país como se fossem vagabundas poxa!



Silas Malafaia e Marcos Feliciano foram nomes muito comentados ultimamente. O Malafaia porque todos ainda insistem em pegar no pé do cara porque ele talvez seja homofóbico e o Feliciano quase pelo mesmo motivo. Porém, ambos só se tornaram alvos depois de aparecerem na mídia que manipula tudo conforme o seu interesse em nosso país e vai saber quais são os interesses da mídia... O Malafaia e o Feliciano são ignorantes antes de qualquer outra coisa, ou seja, não deveriam ser referência de coisa alguma! E, tem muita gente criticando denominação cristã por causa desses caras, o que é um erro pois tem muita igreja evangélica realizando ótimos projetos sociais.


Pessoal, “Bem-vindos a selva”, estão reclamando do que? O que é que tem acontecido de novo e de tão ruim no Brasil que já não tenha acontecido antes? 
Continuamos votando mal, continuamos ignorantes, porque me desculpem (ou não, tanto faz), mas compartilhar imagem pagando de rebelde no Facebook não muda porcaria nenhuma. É desencargo de consciência, gente motivada pelo mesmo tipo de influência que a mídia se utiliza, e enquanto você paga de rebelde a turma do mensalão está com cargos importantíssimos (mais importante que o cargo do Feliciano) e a galera ainda fica se fazendo de bem informada compartilhando essa onda no Facebook.

Enfim, você apenas compartilha foto o tempo todo, você apenas repassa informação, mas você pouco faz, você pouco fala! Escreva a sua opinião e pare de repassar informação que mal sabe de onde vem.


Diga e faça algo você mesmo, com as suas palavras, mostre a sua cara, diga o que você acha e assine! 



Enquanto você fica em silêncio eu te pergunto: Se nem você o faz, quem é que te representa nesse país?


* Matheus Giuliano Geraldi é Designer Gráfico na empresa Design Studio

segunda-feira, 1 de abril de 2013

FORMAS DE SER, PRÁTICAS SOCIAIS E ALTERIDADE

POR Almir Fabiano Nicolau de Moraes



Na atual conjuntura social, onde a proxemia física concretiza-se em detrimento da experiência da proximidade meta-física num contexto de globalização, o entendimento do Outro tem sido um exercício restringido à afirmação (instrumentalizada) do ‘Eu-Total’ pela prática de-compositora da Razão. O espaço geo-físico (guardado o devido pleonasmo) superado no contexto dos “Ciber-relacionamentos” são cabíveis exemplos da proposição supracitada, tendo em vista o contraste de relacionamentos sociais convencionais, onde o Outro é tratado como "um-diferente”, ao passo que no universo “Ciber-cultural” o Outro se apresenta como “um-mesmo”. Este “não-reconhecimento” do Outro como “um-diferente” é sintomático de um contexto de instrumentalização das relações sociais por um “Eu” que não reconhece o Outro, nem se reconhece no Outro, mas reconhece-se (afirma-se) pelo (e apesar) do Outro.
            Trata-se, de certa forma, de uma “diagnose” de atuais práticas sociais determinantes (ou resultantes) de formas de Ser. Neste caso, relações virtuais que atualizam-se em práticas sociais de instrumentalização do Outro referem-se a formas de ser pautadas pelo racionalismo perspectivista. Estas práticas sociais efetuam a de-composição do Comum em indivíduos totalizados, microcosmos perspectivados e alienados da “Comum-unidade”.
            Sinalizo a tese proposta pelo querido professor José Maria de Paiva, em nossas reuniões em sala de aula, de que tais “Formas de Ser” advenham de práticas sociais mercantis. Não me deterei nisto, embora saliente a coerência de tal argumento em relação à análise de conjuntura supracitada. As práticas mercantis, que emergiram a partir do distanciamento (consciente) do “É” em relação à physis, consistiam da perspectivação do meio (natura, bioma) e sua conseqüente valoração, tendo em vista relações comerciais baseadas na troca. Com a finalidade de resolver questões dúbias em relação ao estabelecimento do valor igualitário do objeto da troca, surge a moeda, o dinheiro (denário), símbolo e convenção da prática mercantil, resultante do entendimento racional, e resultando em um grau maior de subjetividade. Tais práticas sociais graduam-se na instituição do salário, que podemos sinalizar como a valoração agora não apenas do objeto da troca, mas do Outro, um “É” tido como escravo, funcionário, oficial ou jornaleiro. Eis que, em nossos dias, a prática mercantil elevou-se à instrumentalização do Si-próprio, o “É”, agora tomado como mercadoria; não bastou instrumentalizarmos o meio-ambiente e seus recursos, a técnica e a cultura humana, houve a necessidade de instrumentalização da própria subjetividade, do Si-mesmo, tomado como objeto de lucro – quem nunca ouviu falar em “empreendedorismo” e “marketing pessoal”?
            Aqui estou “Eu”, no afã da solidão (passiva) em detrimento da solitude (ativa), perto apesar de longe, esgarçado em minhas malhas do “Si-mesmo”, perdendo-me de mim no intento desesperador de achar-me... “Ecce homo” – o que fareis dele ???
              Não pretendo res-ponder à indagação acima, mas posso apontar um caminho possível – e não é de se estranhar que se estruture em uma prática social: o Amor.
              O “pathos”, ou o afeto, refere-se a um modo de ser que subsume o Diferente, que conhece o mundo por um entendimento afetivo que não perspectiva, mas assimila o Todo. Já dizia Pascal que “o coração tem suas razões, que a própria razão desconhece”. O afeto é a possibilidade do Si-mesmo assimilar o Outro, senti-lo em Si e sentir-se nele. E neste processo que constitui o É, não há distanciamento e nem instrumentalização, mas há “Expressão fluidora” de Vida. Não há retorno ao entendimento afetivo, uma vez feito uso do modo de ser racional. Neste sentido (restrito), são antitéticos. Uma vez submerso no entendimento perspectivista, o afeto constitui-se como anulação do “É”. Na impossibilidade, surge o milagre do Amor.
              Entendo o Amor não como um afeto, mas arrisco-me a tomá-lo como um “Modo de Ser” capaz de transcender a razão e o afeto, sem porém, anulá-los. Amor, assim, estaria no âmbito da práxis, sendo:
“partilhar a Existência, no exercício de oferecer a Vida em serviço...”
“Amor” é um modo ser, “Amar” é a prática social do Amor, ou seja, a solidariedade. Pouco me importam as concepções gregas do amor – para mim não passam de modalidades do Amor. O Amor aqui descrito circunscreve-se no ato de sacrifício do Si-mesmo, que ao partilhar da potência da Vida afirma-se pela assimilação do Outro como “um-mesmo-diferente”. É um paradoxo, não nego – mas se não o fosse, seria meramente racional...
              O Amor é o modo de ser que partilha a gratuidade da Vida com o próximo – reconhecendo-o como um “Eu”. Mas é um sacrifício, pois não parte da análise do que se tem para dar, mas sim do que o Outro necessita; sacrifício egoísta que concretiza-se no altruísmo. Eis aqui o Amar – a solidariedade, que retorna ao Comum pela escolha individual. Não que seja conveniente, vantajoso ou agradável – muito pelo contrário, mas é o pulsar que lança fora todo o medo (cf. I Jo 4:18), que faz a soma das partes superar o todo, que nos leva a experenciar a proximidade que independe do espaço geo-físico.
              O Amor também instrumentaliza, instrumentaliza a morte para a Vida, tornando cada “Eu” eterno no “Outro”. Faz da Vida – estância à gratuidade – o maior Bem a ter e consequentemente oferecer. Solidariedade é a partilha deste Bem.
              Sinalizei que apresentaria (apenas) um caminho possível, enfatizando a não pretensão de trazer respostas (no sentido de darem conta do Todo que constitui o problema); isto, porque não posso incorrer-me no erro de tentar conceituar, de-finir (delimitar) o Amor. Apenas apresento (já fruto de um modo de ser social racionalista) uma perspectiva do mesmo.
              O desafio que se apresenta não se constitui no reconhecimento do Outro – mas na realização da “Experiência da Proximidade”. Quem a fará, para além de nossa (ciber)compreensão do Si-mesmo, do Outro e do Mundo?
              “Agora, porém, permanecem estes três: A Fé, a Esperança e o Amor – mas o maior deles é o Amor” – I Cor. 13:13.