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"É necessário saber perder tempo para comprometer-se nas lutas dos povos periféricos e das classes oprimidas. É necessário saber perder tempo em ouvir a voz de tal povo: suas propostas, interpelações, instituições, poetas, acontecimentos... É necessário saber perder tempo, no curto tempo da vida, em descartar os temas secundários, os da moda, superficiais, desnecessários, os que nada têm a ver com a libertação dos oprimidos." - Enrique Dussel

sábado, 15 de agosto de 2015

NOTA POLÍTICA SOBRE AS MANIFESTAÇÕES DE 16 DE AGOSTO:


Vivemos um momento emblemático no Brasil, no que tange o cenário político e econômico em relação à política partidária que, historicamente, estabelece-se como forma unívoca de se pensar politicamente essas questões em nosso país. Deixando de lado os conceitos e termos complexos, quero pontualmente estabelecer uma reflexão sobre as manifestações de amanhã, dia 16/08, evocada por seus idealizadores como “marcha contra a corrupção” e vulgarmente estabelecida como “Fora Dilma” pelos menos propensos à criticidade conjuntural.
Eu entendo a revolta de uma parcela da população em relação aos escândalos de corrupção, graves cortes orçamentários e ataques diretos aos direitos historicamente conquistados com muita luta pelos trabalhadores, que vêm sendo empreendidos sob o governo do PT; entendo que tal parcela da população, embasada em uma visão perspectivada, alienante e unilateral dos “fatos” estabeleça sua opinião política baseada no ódio das classes dominantes pela bem-sucedida política de redistribuição de renda efetuada e implementada pelo governo do PT, ódio esse disseminado pelos principais meios de comunicação, cujo interesse se alinha apenas com seus próprios investidores, esses mesmos da classe social dominante acima referida. Embora eu tenha o maior respeito, solidariedade na luta e empenho irmanado aos companheiros militantes do PT, não posso deixar de fazer duras críticas à sua forma de governo que tem traído os trabalhadores, estabelecido uma agenda de ações governamentais que beneficiam o capital, sangrado a classe trabalhadora para garantir o lucro dos banqueiros e demonstrado incapacidade política para lidar com os ataques da burguesia, respondendo com alinhamento de interesses aos mesmos para garantir o mínimo de governabilidade; o PT deixou de representar o povo trabalhador que o elegeu, não tem demonstrado firmeza e tem respondido com arrocho fiscal, corte de verbas públicas e ataques descarados aos direitos do trabalhador, fazendo o povo pagar pela crise financeira resultante das explorações de mais-valia dos detentores dos meios de produção, bem como toda a elite burguesa de nosso país. Com todo o respeito aos meus colegas, sinto em dizer que o PT não me representa!
Entretanto, deixo claro que jamais poderíamos considerar o retrocesso de deixar a elite carniceira do PSDB assumir o governo, muito menos seus lacaios do PMDB; sem cometer o suicídio intelectual de polarizar a questão política entre PT e PSDB, porém considerando ser o PSDB o principal fomentador desses protestos de “Fora Dilma”, quero considerar que:
1)      A mídia defende os interesses da classe dominante, seus mantenedores e clientes, e essa mesma elite burguesa mantém financeiramente os partidos de direita (mesmo os partidos que se dizem “socialistas” no nome, mas possuem plano político e de governo alinhado aos interesses dos capitalistas); Assim, não se trata de o PT ser o “rei dos escândalos de corrupção”, mas sim de “coar o mosquito do PT e deixar passar o camelo do PSBD”; em outras palavras, no governo estadual PSDBista de São Paulo, existem escândalos de corrupção que tornariam os escândalos envolvendo o PT irrisórios, como o Trensalão Tucano por exemplo, que não aparece na mídia, que foca exclusivamente no PT como espantalho da esquerda.
2)      Não se trata de passar a mão na cabeça do PT, mas de coerência. Precisamos desconstruir a ideia de que o ato dos coxinhas protesto de amanhã é contra a corrupção, uma vez que é idealizado por um partido que, comprovadamente, é recordista em escândalos de corrupção.
3)      O PT não inventou a corrupção. PONTO! Entendam isso! E parem de acreditar que o país era um mundo encantado da Disney antes do PT, porque você só pensa esses absurdos porque certamente estudou em uma escola pública que tem heranças de uma formação acrítica do currículo pedagógico da ditadura militar.
4)      Com todo respeito, vc pode ter suas convicções políticas e ser respeitado por isso, mas não seja um idiota útil; vc não grita “fora Dilma!” sem gritar inconscientemente “fora democracia!”; vc não grita “fora PT” sem gritar também “sim” ao retrocesso, à política dos patrões e banqueiros, às privatizações, extermínio de marginalizados, pobres e negros, à política do Estado Mínimo, ao Capital, enfim, ao governo dos opressores, mesmo se achando apartidário, mesmo dizendo não defender partidos, mas na prática vc está sendo, com perdão do termo e sem querer te ofender, um “idiota útil”.
5)      Eu votei na Dilma (contra o Aécio), e ela se reelegeu DEMOCRATIMENTE. RESPEITE MEU VOTO, impitimá meuzovo!
6)      Não se trata de lutar por país melhor, mas de ser instrumentalizado pela elite para fazer o jogo sujo dela, caia fora disso! Na atual conjuntura e cenário econômico e político do Brasil, esse protesto é defender GOLPE! Sim, essa tática da direita é golpismo sim!
7)      O PSDB foi para as eleições com um “plano A” e um “plano B”: plano A – ganhar as eleições; plano B – se perder, não deixar o PT governar... é o que ele tem feito.
8)      Ao levantar suas mãos no protesto, vc se irmana a um governo que pesa sua mão forte contra os professores de São Paulo; quebra os cofres de SP, corta verbas da educação, privatiza presídios para fazer disso um mercado, bota água de fezes na sua torneira e te faz culpar a Dilma por tudo isso.

Enfim, poderia dizer muito mais, mas concluo por aqui manifestando meu repúdio a essa política golpista da direita, fazendo a cabeça do povo trabalhador que foi educado a não ser crítico, nas escolas do governo do PSDB. Sim, sou contra essas manifestações antidemocráticas, não vou dia 16/08 e gostaria que vc refletisse muito bem sobre isso também. Preservo meu total respeito por vc, independente de seu posicionamento, e seu total direito de discordar de mim; todavia, deixo claro que se vc quiser comentar essa publicação, talvez não tenha tempo para responde-lo, pois sou professor e estou trabalhando 14 horas por dia, 6 dias por semana para não morrer de fome decorrente do que Alckimin fez à nossa classe, a ponto de necessitarmos deixar o giz na lousa e lutar numa greve histórica de 92 dias de resistência e protagonismo heroico dos professores!

sábado, 27 de dezembro de 2014

SONETO A QUATRO MÃOS

Por Vinícuis de Moraes & Paulo Mendes Campos


Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.


Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.


Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.


Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.


Extraído do livro "Vinícius de Moraes - Poesia completa e Prosa", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1998, pág. 516.
In: http://www.releituras.com/viniciusm_soneto.asp acesso em 27/12/2014


segunda-feira, 9 de junho de 2014

"AMAR É..." [5]

"Amar é experenciar a desnecessidade dos porquês, não a ausência de motivos..."


"AMAR É..." [4]

"Amar é assumir o afeto em sua profundidade a despeito de sua pretensa grandeza; por isso, a diferença entre o amor e a paixão é que o amor busca demonstrar-se na humildade de quem se curva para alcançar a profundidade do outro em si, ao passo que a paixão busca aparecer ao outro (e a despeito do outro) no ato de impor-se sobre o sentimento do outro-objeto..."


"AMAR É..." [3]

"Amar é esvair-se em outridade, para resgatar no outro a existência e a essência de um "eu" negado ..."

"AMAR É..." [2]

"Amar é viver no outro e morrer no 'eu'..."


"AMAR É..." [1]

"Amar é partilhar a existência, no exercício de oferecer a vida em serviço..."


domingo, 16 de março de 2014

PAI NOSSO REVOLUCIONÁRIO


Pai Nosso Revolucionário
Pai nosso dos pobres marginalizados,
Pai nosso dos mártires, dos torturados!
Teu nome é santificado naqueles que morrem defendendo a vida,
Teu nome é glorificado quando a justiça é nossa medida.
Teu Reino é de liberdade, de fraternidade, paz e comunhão.
Maldita toda a violência que devora vida pela repressão.
Queremos fazer tua vontade. És o verdadeiro Deus Libertador.
Não vamos seguir as doutrinas corrompidas pelo poder opressor.
Pedimo-te o Pão da Vida, o Pão da segurança, o Pão das multidões.
O Pão que traz humanidade, que constrói homens em vez de canhões.
Perdoa-nos quando, por medo, ficamos calados diante da morte!
Perdoa e destrói os reinos em que a corrupção é a lei mais forte.
Protege-nos da crueldade, dos latifundiários, dos prevalecidos.
Pai nosso Revolucionário, camarada dos pobres, Deus dos oprimidos.

(ignoro o autor)

sexta-feira, 14 de março de 2014

TABULA RASA

Por Almir Fabiano Nicolau de Moraes


Uma página em branco nunca é uma página em branco,
é um Universo em potência...
Uma supernova explode cada vez que toco a caneta no papel,
e da violência de minhas letras na nudez de uma folha virgem
surge a existência de um ser que se põe...

Não escrevo segredos, sigilos ou confidências,
(des)faço emergir beleza do Caos que me constitui.
Rompo na concretude da escrita a abstração
de minhas leituras passivas, massivas, nocivas...
como a estrela rompe a escuridão a partir da luz de seu "caos ordenado".

Uma página em branco é apenas uma página em branco,
que transpira sensualidade, instigando-nos a penetrá-la com a virilidade de nossas letras fálicas.
Palavras onívoras colhidas de uma selva hostil dos sentidos,
mesmo não conhecendo nossos desejos, temores e prazeres...
Seduz-nos, insinuando-se a nós sem pudor algum!




quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

AMO-TE

Por Almir Fabiano Nicolau de Moraes

Amo-te no silêncio.
Amo-te nos ecos que a música de teu corpo repercute em minh’alma desnuda
Amo-te no silêncio, porque tua beleza ensurdece os barulhos de meu coração agitado
Amo-te nos ocos ecos de meus (tra)avessos (re)versos retinentes, reticentes...

Quando meus olhos choravam a dor,
não puderam perceber que eras a razão
Do levantar das minhas mãos
a enxugá-los... e assim, desesperados, retornarem a vê-la, colírio e bálsamo!

Amiga! Roubaste-me o coração num duro golpe de “ser quem és”
Perdido estava de mim, procurando-me em outra, sem perceber que encontrava-me em ti
És a confluência de mim, onde minha Piracema segue rompendo para desaguar em teus olhos... e descansar em teus lábios!

Amo-te, não na ausência dos motivos, mas na desnecessidade dos porquês!
Linda, simplesmente aconteceste-me...
E não sei se quero me achar em ti, ou perder-me simplesmente nos labirintos que provocas em mim.
Entrementes, que os fios de Ariadne levem-me direto ao teu coração, onde posso me aconchegar sendo quem sou...

Amo-te, e não posso negar!
Amo-te, e não quero escusar!
Amo-te na beleza do ouvir, não na sutileza do falar
Amo-te no silêncio (e sabes!), como no silêncio desabrocha a flor

Porque a flor não demanda pretextos, simplesmente “acontece”... e desabrochas no  jardim do meu amar.


quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

FELIZ, ANO NOVO!

Por Almir Fabiano Nicolau de Moraes

FELIZ, ANO NOVO!


Não, essa vírgula não está inadequada nessa oração, foi intencionalmente colocada aí, para fazer-te refletir um pouco sobre a maneira como encaramos as coisas...

Ainda adolescente, porém já preocupado em tentar esforçar-me ao máximo para crescer "em estatura, graça e sabedoria" (Lc 2:52), li certa vez que toda mudança só é mudança quando se muda alguma coisa; essa aparente redundância apresenta uma profundidade de entendimento prático da vida, e que merece uma adequada reflexão, para dela tirarmos conceitos - subversões - sub-versões (versões singulares da realidade dada), que, embora tenha há muito tempo ouvido, somente no finalzinho do ano de 2013 pude experenciá-la na concretude de meus arranjos existenciais.

"TODA MUDANÇA, SÓ É MUDANÇA QUANDO SE MUDA ALGUMA COISA"! Nós representamos, dentro de um entendimento temporal linear, uma certa ruptura nesta fatia que determinamos por "ano", ou seja, o tempo segue, porém acreditamos que neste determinado momento que rompe o 31 de dezembro para surgir o 01 de janeiro, coisas mudarão, novas metas serão atingidas, enfim, tudo será diferente, muita coisa MUDARÁ. Mas as COISAS não mudam, porque são COISAS, o que muda são PESSOAS! Prestem atenção no mo(vi)mento de (re)flexão que estou desenvolvendo: Para que as "coisas" mudem neste ano de 2014, é necessário que VOCÊ mude! O ano não muda, as circunstâncias, em si mesmas, não mudam (ainda que diferenciem-se), os projetos não saem do abstrato sozinho, o experenciável não se efetua concretamente por puro movimento de ideias, de planos, de propostas... Para que haja a mudança, faz-se necessário que definitivamente se mude algo, do contrário, tudo permanece em seu "status quo".... PARA SE BEBER O LEITE, DEVE-SE ORDENHAR A VACA!

Neste ano que passou, sofri muito... chorei muito, decepcionei-me com pessoas, senti-me, por diversas vezes, um inútil e o pior de todos os seres humanos... mas as risadas foram exponencialmente maiores, e na dor percebi quantos amigos verdadeiros eu tenho, vivi a benção de ter nascido na melhor família do mundo, e de congregar a minha fé na melhor família espiritual do mundo, que é a minha amada igreja, onde compartilho vivências na caminhada da fé, descobri e conheci pessoas maravilhosas que literalmente mudaram minha vida, e aprendi, aprendi, aprendendo... !
Entendi que, embora as circunstâncias nos influenciem, ela não nos determina! E que mesmo no labor de ser lapidado, podemos desfrutar do prazer estético de oferecer a nossa própria vida como obra de arte!

Assim, queridos, coisa fácil é desejar um FELIZ ANO NOVO! Porque colocamos no tempo, na virada, no signo, um poder de mudança em nossa vida, como um posicionamento passivo, como se o ano novo fosse nos trazer felicidade... Péssima notícia: A FELICIDADE NÃO EXISTE! Boa notícia: exatamente porque ela não existe, PODEMOS CONSTRUÍ-LA, criá-la! Ou seja, ao invés de enfatizarmos um ano novo que nos traga uma suposta felicidade de "fast food", adquirida, consumida, que aprendamos a construir a felicidade, no caminho do viver... no caminho do viver solidário, do viver piedoso e misericordioso, do viver comunitário, do viver O Caminho, nos caminhos partilhados de existências que se cruzam com as nossas! Ao invés de desejar que um "novo" ano te faça feliz, te desejo que, independente das circunstâncias, você DECIDA construir a felicidade neste ano que se inicia; só assim, ele poderá ser chamado de ano NOVO! Essa é uma postura ativa diante da vida, diante de si... Não espere de um signo, uma construção cultural, um poder de mudar as coisas... Desafie-se a mudar-se no viver enquanto pessoa! Pessoas mudam, coisas não! Seja, decida ser feliz, para que o ano seja um ano novo; do contrário, será apenas "mais do mesmo"

E lembre-se, a felicidade só vale a pena, quando compartilhada...

TE DESEJO FELICIDADE, PARA QUE SEU ANO SEJA NOVO... FELIZ, (por isso) ANO NOVO!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

NATAL: CHAMADO À MISSÃO - CONVITE À CORAGEM*


Natal é, sobretudo, "... tempo de compaixão e de coragem, misericórdia e vigor. Tempo de equilibrar a alegria com o heroísmo. Tempo de dedicação e renovação!

É um tempo de muita luz, que nos desafia a uma postura tanto diante da sua ausência quanto de seu excesso: ambos podem nos cegar. Está na hora de enxergarmos a verdadeira luz em meio a tudo que ofusca!

E é preciso coragem para atravessar o que nos cega: com a mão á fronte, protegendo-nos da luz, atravessemos a ganância, o medo e a insegurança que reluzem tão poderosamente em nossos dias e noites...

Neste Natal, tenhamos a coragem de nos fazer presença, em vez de multiplicar os presentes! Estejamos presentes junto às pessoas, sobretudo os famintos, carentes e excluídos! Tenhamos coragem de deixar Papai Noel de lado, vestindo-o com calções e chinelos e lacrando todas as chaminés, para abrirmos nossos corações e portas à chegada salvadora do Menino Jesus em cada criança!...

Tenhamos coragem de falar às nossas crianças que, em vez de brinquedos e bolas, peçam bençãos e graças, abrindo seus corações para destinar aos pobres todo supérfluo que entulha nossos armários e gavetas. A sobra de um é a necessidade de outro, e quem reparte bens partilha Deus...

Tenhamos coragem de nos despir dos pudores, e fazer em família ao menos um momento de oração, ler um texto sagrado, agradecer ao Pai de Amor o dom da vida, as alegrias do ano que finda e até dores que exacerbam a emoção, sem que se possa entender com a razão. Finita, a vida é um rio que sabe ter o mar como destino, mas que ignora quantas curvas, cachoeiras e pedras haverá de encontrar nesse seu percurso...

Tenhamos coragem de cobrir nossas mesas de Natal com afeto e compaixão... Dispostos a renascer com o Menino, com urgência, trataremos de sepultar iras e invejas, amarguras e ambições desmedidas, para que o nosso coração seja acolhedor como a manjedoura de Belém...

Tenhamos coragem de, mãos dadas com o Menino-Deus, deixar que as águas lavem o avesso de nossa pele e, em seguida, caminharmos silentes rumo ao novo ano... E com os olhos fixos na Divina Criança, deixar que seu verbo se faça carne em nosso coração de pedra, cuidando para que cresça despregada da cruz, exaltada pela vitória inelutável da Ressurreição...

Enfim, tenhamos coragem de viver um terno natal, ousando corrigir o equívoco do poeta: pois o amor não é eterno enquanto dura, antes dura porque é terno. Amém."

( Pe. Paulinho)

* Retirado da liturgia da cantata de natal das crianças da Catedral Metodista de Piracicaba, no contexto do culto matutino do dia 15/12/2013

sábado, 30 de novembro de 2013

"AMAR" É CAMINHO... "CUIDAR" É CAMINHAR

Por Almir Fabiano Nicolau de Moraes

"Amar" é caminho, "cuidar" é caminhar no amor, compassadamente, continuamente, respirando Esperança e inspirando Deus em fôlego que sustenta o pulsar de um coração pelo Outro... Empoeirando os pés cansados, limpando-os com as próprias lágrimas que caem de seus olhos obnubilados que distorcem a visão, e logo não se tem mais certeza do caminho, nem do caminhar, nem da esperança, nem de Deus e, consequentemente, do outro; perde-te em ti mesmo e, prostrado, a poeria erguida de outros pés apressados culminam na cegueira, ardor resultante do esforço próprio em enxergar o caminho faz-te acostumar com as trevas... logo a escuridão é teu conforto, e a luz da vida é teu incômodo!
Pobre caminhante, cego de si mesmo, do outro e de Deus, vítima atropelada por "amantes" do caminho que, no esforço de manterem-se no caminho, perderam-se no caminhar, no cuidar, cuja pressa resulta em poeira ofuscante de outros caminhantes cansados... Pobre caminhante, que é o "caminho" sem o "caminhar"? E que é o "caminhar" sem o "caminhante"? Caminhantes do Amor, saibam que o caminho que trilham é caminho de dor e lágrimas, e o sorriso não virá das pegadas deixadas em terra molhada pelas lágrimas, mas sim da quietude de quem não tem pressa, se demora no caminhar, compassadamente e continuamente, respirando e inspirando, mantendo o pulsar do coração pelo outro; no mo(vi)mento do amar, do amar que se demora, há lágrimas suficientes para limpar os olhos doridos e ofuscados de poeiras levantadas por peregrinos que nem sabem onde tal caminho os levará!

A CU(ltu)RA DO TEMPO

Por Almir Fabiano Nicolau de Moraes



Não é o tempo que cura as feridas. O "tempo" é inexistente, além de uma construção histórica que apreendemos por "temporalidade", é uma faculdade presente no entendimento humano. Além do que, não podemos substanciar o "tempo", ele é um signo, uma representação observável fenomenicamente apenas a partir do referencial que nós criamos, ou seja, ele é experenciavel e não abstraivel. O tempo é a inscrição sígnica de nossa condição concreta de mundialidade no próprio movimento dessa condição perceptível por nossa consciência de "ser-no-mundo".
O tempo não cura nada. Esquecer não cura... Nossas feridas são superadas não em um signo o qual atribuímos caráter de substância, muito menos em qualquer relação antropomórfica relacionada a eventos fenomênicos de nosso cotidiano, mas sim no próprio exercício efetivo e concreto de "pôr-se no mundo", e oriundo da consciência de si gerada pela percepção do movimento dialético dessa condição de "ser-no-mundo". A dor emocional é uma modalidade de percepção de si no mundo, portanto, uma modalidade de ser. É necessário substituir referências estruturais de nossa percepção do (e no) mundo, substituir paradigmas, superar realidades experenciaveis na própria condição abstraivel de "estar-no-mundo"... Em outras palavras, o tempo é uma construção sígnica de nossa consciência em relação ao movimento próprio do "ser-no-mundo"; É uma construção que não muda a realidade da dor; essa só poderá ser resolvida e superada no próprio exercício de "pôr-se no mundo", ou seja, construindo a própria forma de ser no mundo... e o amor é um modo de ser (no mundo) que assume a dor, não para anulá-la, mas para (res)significá-la no movimento de si em busca de curar a dor do outro.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

DEIXE-ME



Deixe-me...
Porque o céu não nos permitiu
Porque o amor vai machucar seu lindo coração
Irá torná-lo doente...

Temos poucas coisas em comum, certo?
E o caminho que você e eu podemos andar juntos
Parece ser muito curto.

Você não pode manter as palavras de amor mais.
Você pode abrir as asas azuis  e voar bem alto.
EU ESTAREI DE PÉ, ONDE POSSA CHEGAR A VER SEUS OLHOS...

Deixe-me... deixe-me... por favor, deixe-me!
Deixe-me... deixe-me... está tudo bem.

Deixe-me...
Porque as pessoas vão tentar nos parar.
Porque o amor está contra tudo que está ao nosso redor.

Temos poucas coisas em comum, certo?
E o caminho que você e eu podemos andar juntos
Parece ser muito curto.

Agora eu deveria deixá-la ir por amor, não deveria?
Voe para um lugar maior,
EU ESTAREI DE PÉ ONDE A RESPIRAÇÃO SE ATRASA...

Eu estarei de pé onde eu possa chegar a ver seus olhos
Deixe-me... deixe-me... por favor, deixe-me!
Você pode abrir as asas azuis e voar bem alto.
EU ESTAREI DE PÉ ONDE A RESPIRAÇÃO SE ATRASA...

Eu estarei de pé onde eu possa chegar a ver seus olhos
Deixe-me... deixe-me... está tudo bem!
Deixe-me... deixe-me... eu te amo!

(Loveholic)



quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A ESTATURA DE UM GRANDE HOMEM

Pelo rev. Nilson da Silva Júnior

Almir, a propósito do seu aniversário, pensei sobre a 


"Estatura de um grande homem"



Um grande homem é, sempre, bem mais que um homem grande, pois já nasce feito, nasce pronto, afinal, ser grande é ter essência, e a essência de uma pessoa ninguém tira e ninguém põe, porque é parte intrínseca do que forma e tece cada célula que temos...



Um grande homem é generoso, mesmo que não haja motivo, reciprocidade ou reconhecimento. Sua alma o faz bem querer, somente pelo bem que tem dentro de si. Por isso, nem sempre ama quem merece, nem sempre merece o que colhe e, mesmo assim, ama, planta e rega com carinho tudo o que faz. Um grande homem, é ético, é honesto e fiel. Não se desvia do que crê, não se envergonha do que acredita, luta pela verdade. Um grande homem confessa mágoas, pede perdão, volta atrás, sabe esperar, respeita e honra quem ama. É claro e transparente, é puro e companheiro.



Um grande homem acredita em si mesmo. Persiste diante da impossibilidade, transcende diante das dificuldades e sonha quando não é possível realizar seus desejos. Ama, por isso é abnegado, honra, por isso é incapaz de desrespeitar, sabe o que quer, por isso não se corrompe, acredita, por isso aprende a esperar, é humilde, por isso sabe reconhecer e ouvir.



Um grande homem não se interessa nas pequenezes do prazer efêmero, pois se ocupa na transcendência do que é eterno, admirável e sensato e, por consequência, terá o prazer de um dia olhar pra trás e perceber que a vida não foi em vão, a lisura não foi em vão, que a dor, a angústia, a honestidade e a espera, o sofrimento, a humilhação tiveram seu valor, já que através disso, pode galgar o que é mais nobre e honroso na pobreza humana, a satisfação de ter sido grande em seu caráter, grande em seus sonhos, grande em sua história.



Assim, Almir, o meu desejo é que você, cada vez mais, trilhe este caminho árduo e galgue, cada vez mais, o posto de um grande homem diante de Deus e de todos e todas que te querem bem...



Um forte e "grande" abraço...



Rev. Nilson

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

REFLEXÕES COTIDIANAS SOBRE O MACHISMO DE CADA DIA

Por Daya Maya Martins Alvim*

Desde que nascemos, somos incitados a reproduzir pensamentos e frases machistas. A mulher e o homem tem seu papel pré definido na sociedade. A mulher não pode, de forma alguma, ultrapassar o limite do bom senso. Dar os primeiros passos na relação? Jamais. Ter liberdade sexual? Piorou. Se mostrar independente e livre? Até que pode, mas tem que saber que "o povo vai falar".

No meu grupo de amigos -creio que no grupo de qualquer outra pessoa- ouvimos, diversas vezes, mulheres insultando as outras por conta da sua liberdade sexual. Termos como "vadia" e "Biscate" são um dos exemplos mais usados para se referir a uma mulher que usa seu corpo como bem entende, seja no modo de vestir, no modo de falar ou até no modo de agir.

Se você é mulher e fala assim das outras, reflita um pouco. Chamar nossas semelhantes de vadias, é dar margem para que os homens nos chamem assim também.

Todos nós já fomos machistas um dia, e, muitas vezes somos sem ao menos perceber. Toda mulher tem o direito de ser quem é, sem ser julgada e condenada por isso.

 Querer liberdade é, acima de tudo, querer livre o próximo.


*Daya Maya é estudante universitária do Curso de Direito na Universidade Metodista de Piracicaba

domingo, 8 de setembro de 2013

PASTORAL DO DIA 08/09/2013 - BOLETIM "O MENSAGEIRO" - CATEDRAL METODISTA DE PIRACICABA

TESOUROS EM VASOS DE BARRO
“Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (II Cor. 4:7)

            Em nossa realidade social é comum a valorização da eficiência, da produção, da rapidez, das relações mediadas (e imediatas), do “fast food”... Nesta dinâmica “empreendedorista” do tempo cotidiano, somos inevitavelmente levados a entender o conceito de excelência a partir de nossas habilidades, da polivalência das funções que podemos desenvolver – em outras palavras: nosso valor é medido pelo que temos a oferecer à sociedade, e não pelo que somos.

            O versículo extraído da segunda carta de Paulo aos Corintos nos desafia a entendermos a excelência (podemos substituir pela palavra “sucesso”) sob outra perspectiva: a do agir misericordioso de Deus em nós, e o mais importante, apesar de nós. Como templo e morada do Espírito Santo, apesar de sermos fracos e falhos em nossas ações e intenções, possuímos o tesouro inefável do poder de Deus que age em nós e posteriormente por nós, nos capacitando para toda boa obra.

            O termo “excelência” presente no versículo, no original grego é “huperbole”, que significa “lançar algo além”. Aqui, excelência não tem a ver com a fraqueza do vaso de barro, que somos nós, mas com a magnitude do tesouro em nós, que é o conhecimento de Deus na pessoa de Cristo pelo poder do Espírito Santo. É Deus quem nos lança além, nos impulsiona em direção à vida abundante, nos lança para além dos desafios da vida cotidiana, dos problemas que se nos apresentam no viver diário, nos lança para além de nossas limitações, de nós mesmos e consequentemente em direção ao outro, ao próximo... Romper em fé, como diz um antigo cântico, é a perspectiva cristã para o sucesso, não nessa lógica consumista e mercadológica do fim, mas como meio para a promoção da vida e da dignidade humana.

            Portanto irmãos, que sejamos desafiados a romper com nossas frustrações por não nos adequarmos, por vezes, a essa dinâmica que tenta nos valorar apenas pelo que temos, mas, cingidos pelo poder de Deus em nós, que vivamos a realidade do impulsionar divino em todos os momentos e áreas de nossa vida, e cuidarmos para não relegarmos a nossa dedicação a Deus aos fins de semana; vasos de barro sim, mas brilhando o resplendor do tesouro de Cristo em nós... Assim:

Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;
Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos” (II Cor. 4: 8-10).

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA ARTE, de BENEDITO NUNES: UM ESTUDO DIRIGIDO

Por Almir Fabiano Nicolau de Moraes


O estudo dirigido sobre o livro de Benedito Nunes visa cumprir os requisitos de atividades didáticas extraclasse, para a disciplina de Estética, além de complementar os conteúdos trabalhados em sala de aula, com uma obra específica para a filosofia da Arte.
O livro utilizado para este trabalho é a edição de 1999 – 4ª Edição, portanto – da editora Ática. A obra está estruturada em quatro partes, a primeira com quatro capítulos trata sobre os conceitos preliminares sobre a filosofia da arte, a segunda, com cinco capítulos, trata sobre a relação entre a arte e a realidade, a terceira parte, também com cinco capítulos, versa sobre a relação entre a arte e a existência, sendo a última parte o epílogo da obra.
A obra de Benedito Nunes apresenta ao todo quatorze capítulos, além do epílogo, onde o autor realiza com proeza e maestria o desenvolvimento cronológico ao mesmo tempo que temático/conceitual da filosofia da Arte, apresentando ao final da obra uma sumária bibliografia sobre o tema, para quem desejar aprofundar-se nos estudos da filosofia da arte.

PRIMEIRA PARTE: CONCEITOS PRELIMINARES

            No primeiro capítulo Benedito Nunes salienta que os primeiros filósofos gregos preocuparam-se com os elementos constitutivos das coisas, bem como os Sofistas do século V a.C. preocuparam-se em debater temas de interesse prático (segundo ele movidos por uma época de crise ateniense), sendo que foi necessário esperar por Sócrates para debater a apreciação das artes. Platão, discípulo de Sócrates, suscitou três ordens de problemas acerca das artes: A essência das obras “pictórias” e “escultóricas” comparadas com a própria realidade, a relação entre elas e a Beleza, e os efeitos morais e psicológicos da Música e da Poesia, conseguindo então problematizar a existência e a finalidade das artes. Coloca também sobre Aristóteles a égide de ter escrito o primeiro tratado (teoria explícita) da Arte que a Antiguidade nos legou.

            Plotino teria  concebido à Arte uma importância metafísica e espiritual que não poderia ser aceita pelos pensadores cristãos, propensos a considera-la objeto mundano; porém, à medida em que “vai decrescendo o interesse intelectual pela arte” intensifica-se o interesse filosófico e teológico sobre a ideia de Beleza. A Beleza para os filósofos medievais pertence essencialmente a Deus, e sua relação com as artes é acidental, não essencial. A união teórica entre o Belo e a Arte se deu no Renascimento, originando na ideia de Natureza.

            No segundo capítulo, Benedito Nunes destaca que o que caracteriza o estudo da estética não é simplesmente o estudo do Belo, mas “vincular esse estudo a uma perspectiva já definida”, já vislumbrada pelos teóricos das artes do século XVII e XVIII, sendo que os dois sentidos, a vista e o ouvido, desempenham função primordial na produção deste deleite. Segue definindo a palavra Estética, do grego aisthesis – “o que é sensível ou o que se relaciona com a sensibilidade”. Desta forma, o Belo não é captado pelo conhecimento intelectual, mas relaciona-se imediatamente com determinada ordem de impressões, sentimentos e emoções, onde o deleite é satisfatório, bastando-se a si mesmo.

            Benedito Nunes cita o conceito de Belo de Baumgarten, que o define como “a perfeição do conhecimento sensível”, dividindo a estética em duas partes, uma teórica e outra prática. Cita depois a contribuição de Kant, responsável por estabelecer firmemente a autonomia do domínio do Belo, na Crítica do Juízo. Kant admite três modalidades de experiência: a cognoscitiva, a prática e a experiência estética, reduzindo o Belo à condição de objeto não determinado por conceitos e de característica desinteressada. Cita também a contribuição de Edmund Husserl com a fenomenologia, passando em seguida para a distinção entre Estética e Filosofia da Arte.

            No terceiro capítulo, Benedito Nunes destaca as três acepções gregas fundamentais do Belo: estética, moral e espiritual.  Na acepção estética, o Belo é a qualidade de certos elementos em estado de pureza, de toda espécie de relação harmoniosa; Na acepção moral, o Belo é a “mesótis” aristotélica, patrimônio das almas equilibradas, que mantém a harmonia, a igual distância da virtude e do vício; O Belo espiritual é o Belo intelectual, e entre estas três acepções há uma relação hierárquica. A união do conceito de Belo estético com o Belo moral efetivou-se no conceito grego de kalokagathia (ser belo e bom), conceito pedagógico da sociedade grega do século V A.C. Cita também os três princípios da filosofia  clássica: “o da imitação, para definir a natureza da Arte, o estético, para estabelecer as condições necessárias de sua existência, e o moral para julgar seu valor”.

            Nos tópicos seguintes, Benedito Nunes passa a esquematizar alguns conceitos da filosofia platônica, a fim de ampliar a abrangência do conceito do Belo em Platão. Discorre então sobre “a essência que não muda” (mundo inteligível), que abrange sua tese metafísica, a proveniência da alma no mundo inteligível (tese psicológica), e a beleza universal – portanto ideal – que é a essência do Belo. Confere superioridade à Poesia, por instigar a lembrança da beleza eterna, “reacendendo o desejo infinito do Belo, que se chama Amor”.
            Já no quarto capítulo, Benedito Nunes discorre sobre a estética na filosofia de Aristóteles, que segundo o autor diminui a distância entre o caráter contemplativo do Belo e a dimensão prática da obra de arte, presente na filosofia platônica. Para Aristóteles, a arte também possui causas naturais de matéria e forma, sendo que tanto o movimento natural como o prático saem da mesma fonte. A poética, como representação da realidade natural e humana, produz na narrativa trágica a Catarse, que é o meio termo entre a comiseração e o temor, identificando-se com o prazer intelectual e moral, produzindo um “misto de receio prudente e de simpatia”. Para Aristóteles, a beleza é a propriedade intrínseca na obra de arte, caracterizada pela ordem (inter-relacionamento das partes) e grandeza (extensão de cada uma e do conjunto), tendo assim a beleza “forma orgânica”.

            Em outros tópicos, Benedito Nunes discorre sobre a concepção de beleza suprassensível, imutável e eterna em Plotino, posteriormente o Belo como antecipação do gozo sobrenatural da vida eterna em Tomás de Aquino. Neste sentido, a herança aristotélica se dá na separação entre a arte operativa e a beleza contemplativa.

SEGUNDA PARTE: ARTE E REALIDADE

            Benedito Nunes discorre no capítulo cinco sobre o conceito de mimesis na filosofia socrática, aristotélica e posteriormente no Renascimento. Em Sócrates, a imitação se dá pela reminiscência, ou seja, o escultor e o pintor reconhecem as coisas que são belas associando-as num modelo ideal que já possuem na mente. Para Aristóteles, imitar é “representar, por certos meios – linhas, cores, volumes, movimentos e palavras – coisas e ações, com o máximo de semelhança ou de fidelidade”; assim, a mimese artística é o prolongamento de uma tendência natural aos homens e animais – a tendência para imitar. Em Platão existem dois atos miméticos fundamentais: a imitação primeira realizada pelo Demiurgo e a imitação moral que a alma faz do Bem e da Beleza. No Renascimento os artistas procuram imitar o que a natureza tem de essencial e perfeito.

            No sexto capítulo, Benedito Nunes realiza uma pequena explanação sobre a filosofia de Kant, passando por sua teoria do conhecimento e moral, para detalhar um pouco mais a crítica do juízo. Para Kant, os juízos estéticos não se fundamentam em conceitos, mas da experiência pessoal que estabelece juízos de gosto que tendem a universalizar-se, diferentemente da experiência empírica e da experiência moral. Assim, o Belo é “o que é reconhecido sem conceito como objeto de uma satisfação universal”, que por não estar subordinada a conceitos, possui valor autônomo, sendo um fim em si mesma. A experiência estética depende da imaginação para universalizar-se (jogos de imaginação).

            No capítulo sete, Benedito Nunes discorre sobre a filosofia estética de Schiller, que superando o dualismo entre sensibilidade e entendimento existente em Kant, acrescenta um terceiro impulso, o impulso lúdico – impulso para o jogo. Para Schiller, a Beleza é definida como “forma viva”, surgindo da convergência do subjetivo com o objetivo, e é com a Beleza que o impulso lúdico joga. Sem o jogo estético, o homem não seria espírito, ou seja, não teria adquirido liberdade em face da natureza; sendo assim, o jogo estético põe em jogo toda a realidade.

            Para Goethe, levando em consideração que o impulso lúdico é o impulso artístico, há dois impulsos artísticos, o de projeção e o de abstração.

            Benedito Nunes, no capítulo oito discorre desde o idealismo alemão até a filosofia das formas simbólicas de Ernst Cassirrer. Da filosofia de Scheling, salienta que a intuição do Absoluto se dá teleologicamente pela atividade artística, seguindo para um explanação da filosofia de Hegel, onde a Arte, juntamente com a Religião e a Filosofia, é um momento do espírito absoluto. Depois, parte para Schopenhauer e Nietzsche, ressaltando que a criação artística é um tipo de conhecimento primordial “vedado à Razão”. Em Bergson, Benedito Nunes ressalta que a arte é um meio condutor da emoção, sendo portanto um conhecimento intuitivo. Sobre Cassirer, cita que a arte, sendo uma das formas simbólicas, “é uma forma simbólica para o artista que cria e para a consciência que contempla o produto se sua criação”.

            No capítulo nove Benedito Nunes inicia discorrendo sobre o conceito de “expressão”, que para Leibniz é “o ato que consiste em relacionar certos dados atuais presentes a objetos ocultos ou distantes”; destaca também a acepção psicológica do termo: “expressão é o conjunto de efeitos exteriores da consciência, efeitos esses que são sintomas de processos interiores ou sinais de estados psíquicos, sentimentais e emotivos”. Utilizando da fenomenologia em Merleau-Ponty, cita que a intencionalidade não é simples ação voluntária, mas a direção da consciência para os objetos. Para Benedetto Croce, a Arte nasce da intuição de sentimentos que o artista converte em imagens, sendo que o que a distingue de outras manifestações do Espírito é a predominância marcante na poesia lírica, de sentimentos e emoções. Conclui o autor que “a forma artística não é alheia ao sentido nem exterior a ele: e constitutiva do sentimento e da intuição na poesia”, bem como os aspectos qualitativos e sensíveis integram as formas artísticas.

TERCEIRA PARTE – ARTE E EXISTÊNCIA

                Benedito Nunes, no capítulo 10, discorre sobre a relação entre a Moral e a Arte, bem como a ação moral da Arte, passando por Platão, Homero, Tolstói, Nietzsche, Bergson e Sartre, conclui em suma que “é revelando as possibilidades da consciência moral e não adotando uma moral, que a arte cumpre a sua finalidade ética”.

                No capítulo 11 o autor discorre sobre a relação entre a Arte e suas condições sociais, passando pelo naturalismo de Hippolyte Taine e o materialismo histórico de Marx. Para Hippolyte, assim como o meio físico determina a diversidade racial, estas determinam certos traços físicos e psíquicos que “se refletem nos sentimentos dos indivíduos e no caráter das instituições”, que por sua vez correspondem a inclinações que formam uma espécie de “meio moral” que influencia a atividade artística e seu conteúdo.  Já em Marx, a abordagem artística se dá por dois princípios gerais: Sendo pertencente à superestrutura da sociedade, é um fenômeno derivado da atividade social, e por sua natureza essencialmente prática, consiste em uma função ideológica. Estabelece-se então uma noção de “arte militante”, com uma estética que se legitima por um compromisso político prévio, instrumentalizada como recurso prático de uma luta revolucionária. Ao concluir o capítulo, Nunes estabelece uma relação dialética entre a Arte e a sociedade, no sentido de que “o artista não somente cristaliza na sua criação uma dada realidade social, mas responde ativamente às solicitações de seu meio, às exigências de sua classe, aos problemas morais, sociais e políticos de sua época”.

                No capítulo 12 é discutido o caráter histórico das Artes, onde o autor inicia com a concepção de “multivalência histórica” de Merleau-Ponty. Embora o objeto estético seja datável, situado num momento do tempo histórico,  o mesmo possui uma outra dimensão além da dimensão objetiva do tempo histórico (vertical e horizontal), que é a temporalidade “transversal”, por onde recorrem “os inesperados compromissos com o passado, a retomada de tradições que se olvidaram, a descoberta de veios inexplorados que passam a estimular a criação artística.” Ainda há uma quarta dimensão histórica da arte, subjacentes às outras três, onde assenta-se o que há de durável e permanente nas obras artísticas. Assim, após discorrer sobre a relação entre a Arte e a dimensão histórica pelo conceito de “Concepção-de-Mundo” em Hegel, conclui o capítulo considerando que as formas artísticas têm uma “natureza dúplice”: são temporais e intemporais.

                Benedito Nunes, no capítulo 13 discorre sobre os prognósticos acerca da Arte, iniciando pela morte da Arte anunciada por Hegel e Marx, tendo o primeiro por causa “o abandono pelo Espírito do ‘invólucro da Arte’”, e o segundo as novas relações de produção decorrentes do capitalismo industrial. Outro diagnóstico é dado por Lewis Mumford, segundo o qual o tecnicismo ameaça absorver a expressão artística. Segue discorrendo sobre os desdobramentos destes prognósticos, principalmente no Dadaísmo e Surrealismo.

                Por fim, Benedito Nunes discorre no capítulo 14 sobre a Arte abstrata, o desinteresse do Belo e a destruição da Estética: “O problematismo da arte contemporânea é, portanto, radical. Em cada obra de arte que se produz está em jogo o destino da arte; em cada uma delas o artista arrisca-se a mata-la ou a fazê-la existir”.


terça-feira, 16 de julho de 2013

PEDI A DEUS


Eu pedi a Deus força para poder realizar.
Fui feito fraco para poder aprender a obedecer.


Eu pedi a Deus saúde para poder fazer coisas maiores.
Recebi enfermidade para poder fazer coisas melhores.


Eu pedi riquezas para poder ser feliz.
Recebi pobreza para poder ser sábio.


Eu pedi poder para poder ter o louvor dos homens.
Recebi fraqueza para poder sentir a necessidade de Deus.


Eu pedi tudo para poder desfrutar a vida.
Recebi vida para poder desfrutar tudo.


Não obtive nada que pedi, mas tudo o que eu esperava. Quase apesar de mim mesmo, minhas orações não pronunciadas foram respondidas.


Dentre todos os homens, sou o mais ricamente abençoado.




(Carta anônima a Ann Landers)