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"É necessário saber perder tempo para comprometer-se nas lutas dos povos periféricos e das classes oprimidas. É necessário saber perder tempo em ouvir a voz de tal povo: suas propostas, interpelações, instituições, poetas, acontecimentos... É necessário saber perder tempo, no curto tempo da vida, em descartar os temas secundários, os da moda, superficiais, desnecessários, os que nada têm a ver com a libertação dos oprimidos." - Enrique Dussel

sábado, 30 de novembro de 2013

A CU(ltu)RA DO TEMPO

Por Almir Fabiano Nicolau de Moraes



Não é o tempo que cura as feridas. O "tempo" é inexistente, além de uma construção histórica que apreendemos por "temporalidade", é uma faculdade presente no entendimento humano. Além do que, não podemos substanciar o "tempo", ele é um signo, uma representação observável fenomenicamente apenas a partir do referencial que nós criamos, ou seja, ele é experenciavel e não abstraivel. O tempo é a inscrição sígnica de nossa condição concreta de mundialidade no próprio movimento dessa condição perceptível por nossa consciência de "ser-no-mundo".
O tempo não cura nada. Esquecer não cura... Nossas feridas são superadas não em um signo o qual atribuímos caráter de substância, muito menos em qualquer relação antropomórfica relacionada a eventos fenomênicos de nosso cotidiano, mas sim no próprio exercício efetivo e concreto de "pôr-se no mundo", e oriundo da consciência de si gerada pela percepção do movimento dialético dessa condição de "ser-no-mundo". A dor emocional é uma modalidade de percepção de si no mundo, portanto, uma modalidade de ser. É necessário substituir referências estruturais de nossa percepção do (e no) mundo, substituir paradigmas, superar realidades experenciaveis na própria condição abstraivel de "estar-no-mundo"... Em outras palavras, o tempo é uma construção sígnica de nossa consciência em relação ao movimento próprio do "ser-no-mundo"; É uma construção que não muda a realidade da dor; essa só poderá ser resolvida e superada no próprio exercício de "pôr-se no mundo", ou seja, construindo a própria forma de ser no mundo... e o amor é um modo de ser (no mundo) que assume a dor, não para anulá-la, mas para (res)significá-la no movimento de si em busca de curar a dor do outro.

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